segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Quem sou eu?


Página Pessoal 


O meu nome é Pedro Macedo. Tenho 31 anos de idade, nasci em 1981 e cresci em Prazins e Corvite  no concelho de Guimarães.
Formei-me em Educação Física e Desporto pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, tendo terminado o curso em 2005. 
Durante vários anos fui docente de Educação Física do 3º ciclo e Secundário em escolas públicas em Pinhal Novo (Palmela), Elvas, Alvaiázere e Miranda do Douro.
Adicionalmente dei aulas de natação, leccionei Educação Física nas AEC's (Actividades de Enriquecimento Curricular) em escolas primárias em Portugal e trabalhei como professor substituto em Londres e tive diversos outros empregos e projectos que podem consultar no meu Curriculum Vitae.
Tenho interesses bastante diversificados mas um dos que assume maior importância são as Viagens.
Viajar é para mim uma grande paixão.
Adoro visitar outros países, entrar em contacto com culturas diferentes e exóticas e aprender o máximo sobre as suas tradições, as suas crenças, a sua história, a sua música, as formas como a sociedade se organiza, no fundo gosto de descobrir quais as fascinantes diferenças que tornam cada cultura única e quais as semelhanças comuns a toda a humanidade.
Para mim viajar não é apenas o passar as férias a recarregar as baterias num lugar diferente e confortável mas uma experiência enriquecedora e fundamental que deve fazer-me sair da minha zona de conforto e forçar-me a olhar o mundo com outros olhos. Orgulho-me das viagens que fiz e algumas delas foram marcantes para mim e ajudaram a formar-me como pessoa.
Além das viagens gosto muito de trabalhar com crianças e jovens sobretudo em projectos de educação não formal.
Interesso-me muito por projetos de voluntariado e já participei em alguns. Creio que constituem oportunidades para contribuirmos para um mundo melhor, e para aprendermos habilidades e skills que não teríamos a oportunidade de aprender de outra forma.
Acredito que o conhecimento é algo sempre incompleto que a aprendizagem deve ter lugar ao longo de toda a vida.
Por este motivo tento ler o máximo possível e usar os recursos que existem (principalmente online) para continuamente aumentar a minha formação. 
Aprecio particularmente o Coursera tendo já completado e sido avaliado positivamente em cursos nas áreas da Sociologia e Sustentabilidade.
A nível linguístico possuo um bom comando da língua inglesa, tendo já trabalhado como professor no Reino Unido e tendo obtido o CPE (Certificate of Proficiency in English) a qualificação mais avançada de domínio da língua inglesa atribuída pela Universidade de Cambridge.
Possuo também um bom domínio de espanhol e francês, bem como alguns conhecimentos de italiano e japonês.
O meu perfil não estaria completo sem que mencionasse a minha paixão pelo desporto, (nomeadamente pelos desportos de exploração da natureza, com particular ênfase para o montanhismo) e pela escrita.
No âmbito dos meus interesses possuo neste momento dois blogsTrilhos e Encruzilhadas e Montanhas de Portugal.
No primeiro (Trilhos e Encruzilhadas) conto as aventuras e desventuras das minhas viagens e falo um pouco sobre os lugares que conheci. Neste momento o blog aborda apenas duas viagens importantes que fiz, sozinho de mochila ás costas. Uma em que voei para Dakar no Senegal e regressei por terra visitando o Senegal, Gâmbia, Mauritânia, Saara Ocidental e Marrocos. E a outra, uma viagem de sete meses na América do Sul, passando pelo Brasil, Paraguai, Bolívia, Chile e Peru.
No segundo (Montanhas de Portugal) refiro uma actividade ainda praticamente desconhecida em Portugal (peak bagging) e crio a lista de todas as montanhas mais importantes de Portugal, as quais quero subir, fotografar e caracterizar.






domingo, 1 de setembro de 2013

Formação Académica



Formação Académica

Licenciado (Licenciatura de 5 anos pré-Bolonha) em Educação Física e Desporto (Ensino de) pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
Terminei o curso com uma média de quinze valores, tendo optado no terceiro ano pela opção de Desportos de Exploração da Natureza e Lazer.


Curriculum Vitae

Curriculum Vitae

Experiência profissional


2011/ 2012 – Escola Secundária de Miranda do Douro.
Setembro 2010 – Janeiro 2011 – Escola Dr. Manuel Ribeiro Ferreira, Alvaíazere.
2009/2010 – Escola Secundária D.Sancho II, Elvas.
2008/2009 - Escola Secundaria c/ 3 ciclo do Pinhal Novo, Palmela.
Professor de Educação Física (Alunos do 3º Ciclo e Secundário).
  •  - Leccionou a disciplina de educação física a turmas de diferentes níveis.
  •  - Instruiu e avaliou os alunos.
  •  - Desempenhou funções como director de turma.
  •  - Tomou parte e desempenhou um papel activo nas reuniões de professores.   

2009/2010 – Município de Elvas, Elvas
2006/ 2007 e 2007/2008 – Tempo Livre, Guimarães
Professor de Educação Física (Actividades de Enriquecimento Curricular em Escolas do primeiro ciclo).
  • - Ocupou os alunos em actividades de enriquecimento curricular de Educação Física.
  • - Planeou e leccionou aulas de Educação Física a alunos de escolas primárias.
  • - Promoveu o gosto pela actividade física através de jogos lúdicos.
  • - Instruiu e avaliou os alunos.


2007/ 2008 – AquaBrito (Piscinas) – Centro Social de Brito, Guimarães
Instrutor de Natação.
  • -  Instruiu e planeou aulas tanto de adaptação ao meio aquático como de aprendizagem das técnicas de natação para turmas de adultos.
  • -     Instruiu e planeou aulas tanto de adaptação ao meio aquático como de aprendizagem das técnicas de natação para turmas de crianças.
  • -  Participou de forma activa nas diversas actividades de dinamização da piscina e convívio com os clientes da mesma.



2006 – Tradewind Recruitment, Londres, Reino Unido
Professor Substituto.
  •  - Leccionou a disciplina de educação física a varias turmas de diferentes escolas da área de Londres.
  •  - Instruiu os alunos em aulas de substituição a disciplinas diversas.

2006 – Select Education (Recruitment Agency), Londres, Reino Unido
Vigilante de Exames e provas em escolas.
  •  - Assegurou o cumprimento das normas da “National Exam Board” durante a execução de exames.
  •  - Zelou pelo normal funcionamento dos exames, vigiando qualquer eventual viciação dos mesmos.
  •  - Prestou auxilio aos alunos, ajudando na interpretação das questões nos casos em que este auxilio era autorizado.

2006 – Itchy Feet, Wardour St., Londres Reino Unido
Assistente de vendas em loja de artigos de viagens e campismo.

2005 – Starbucks, Carnaby St, Londres, Reino Unido
Barista.

2005 – Ecoturismo Montanha Viva, Guimarães
Monitor de Parque de desportos de aventura e exploração da natureza.

2003/2004 –Escola E.B. 2,3 Monsenhor Jerónimo do Amaral, Vila Real.
Professor (Estagiário) de Educação Física

Verão 2002 – “Estrelas do Mar”Campanha de prevenção rodoviária, Lisboa (Praias de norte a sul do país).
Animador/ Instrutor de prevenção rodoviária:

Verão 2002 – Campo de Férias das Lezírias, Benavente.
Monitor/ Animador.

Verão 2000 – Supermercados Bolama, Ponte, Guimarães
Repositor.

1998/1999 – Escola E.B. 2,3 de Ponte, Guimarães.
Monitor/ Animador.

Qualificações Académicas



Licenciatura em Educação Física e Desporto pela UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), Vila Real, 2005 – Classificação final: 15 valores.


Voluntariado:

  • Evento desportivo “World Gymnaestrada 2003” em Lisboa.
  • Duas semanas no Sitio Teva, Educação Ambiental e Viveiro de árvores destinadas a projectos de reforestação, Paraty, RJ, Brazil.
  • Duas semanas no Sitio do Bicho Solto, Permacultura e Educação Ambiental, Teresópolis, RJ, Brazil.
  • Seis semanas no CAICC – Centro de Apoio integral a crianças, jovens e respectivas familias que vivem dentro da prisão junto com os seus pais, Cochabamba, Bolívia.

As Minhas Viagens


Viagens

A importância de viajar

Viajar é uma paixão!
Apreciar a beleza dos monumentos e paisagens icónicas que aparecem nos cartazes turísticos ou cartões postais é aprazível, mas ainda melhor é ser surpreendido pela natureza e cultura diferentes dos locais que se estão a visitar.
É um prazer aprender sobre diferentes povos e culturas, sobre as suas tradições, as suas crenças, a sua história, a sua música, a sua culinária, as formas como a sociedade se organiza, no fundo, descobrir na primeira pessoa, quais as fascinantes diferenças que tornam cada cultura única, e quais as semelhanças comuns a toda a humanidade.
Quando discutimos uma qualquer ideia com alguém oriundo da mesma sociedade que nós, é muito provável  que as opiniões que essa pessoa tem, independentemente de concordarmos com elas ou não, sejam opiniões que já escutámos antes, por algum conhecido nosso ou pela comunicação social. No entanto quando discutimos um assunto com alguém oriundo de uma outra cultura, frequentemente as opiniões, as ideias, os exemplos que são nomeados são novos para nós, nunca os tínhamos escutado antes e são por isso mesmo, mais surpreendentes, interessantes e enriquecedores.


A minha forma de viajar

Quando viajo valorizo muito a interacção com as pessoas dos lugares que visito. Por este motivo opto a maior parte das vezes por ficar alojado não em hotéis mas na casa de pessoas, recorrendo a sites como o Couchsurfing ou o Hospitality Club.
Comecei como é natural por fazer curtas viagens na Europa, a minha primeira viagem para fora, foi quando visitei Marrocos a primeira vez em 2008.
Se a opção de viajar sozinho ou em grupos muito pequenos e optar por fazer couchsurfing em vez de ficar num hostel, já é importante quando se visita um país europeu, então quando se visita um país exótico com uma cultura completamente diferente como é o caso de Marrocos essa opção é ainda mais primordial.
Apesar desta primeira viagem ter sido curta, senti que fiquei a conhecer melhor a cultura do país do que muitas pessoas que o visitavam frequentemente, porque vi como as pessoas vivem dentro das suas casas e passei o meu tempo a conversar, não com outros turistas, mas com habitantes locais.
Esta experiência fez aumentar ainda mais o meu desejo por viajar, e acabei por fazê-lo cada vez mais, culminando na minha viagem de sete meses pela América do Sul.
A minha predileção pelo alojamento recorrendo ao Couchsurfing e a fazer viagens não planeadas, leva a que tenha muitas vezes que partilhar as condições de vida com as pessoas que me recebem, ou seja comer da mesma comida (com condições de higiene que nunca aceitaria em casa), ou dormir ás vezes em condições não muito boas (quando se faz couchsurfing em África isto é bastante provável).
Além disso agrada-me sujeitar-me ás vezes a passeios fisicamente desgastantes, gosto de subir montanhas, entrar nas densas florestas e atravessar a pé áreas desérticas.
Sujeitar-me ás condições duras da natureza é também para mim uma forma de experienciar de forma mais intensa os lugares. Pode sentir-se realmente o deserto quando se passa do ar condicionado do Jeep para o ar condicionado do hotel?
Não quero com isto dizer que este seja o tipo de viagens aconselhado para toda a gente, ou que desprezo totalmente qualquer tipo de luxo.
É ótimo reencontrar um chuveiro quente depois de passar dias a tomar banho de chuveiro frio ou de bacia e tigela e não me importo de no calor húmido dos trópicos pagar mais por um quarto com ventoinha no teto.
De igual forma compreendo que nem toda a gente tenha o tempo ou a disposição necessária para fazer longas viagens sozinho de mochila ás costas convivendo quase exclusivamente com autóctones.
Quando se viaja com um grupo numa viagem planeada, a experiência do guia e o seu conhecimento da cultura do país são fundamentais.
Nas viagens que organizo procuro usar a minha experiência para facilitar as experiências de interação entre os viajantes e os habitantes permitindo um contacto mais autêntico e enriquecedor para ambas as partes.


Alguns Momentos Marcantes das Minhas Viagens

Ser contratado para servir à mesa num casamento em Marrocos



Subida ao Huayna Potosi (6080 metros de altitude) na Bolívia


Carnaval no Rio

Visita à árvore sagrada de Missirah (Senegal)


Escalada do Pão de Açucar (descalço!)


Travessia de parte do deserto nesta "mota" até uma aldeia sem acesso por estrada transportando uma perna de carneiro para oferecer a uma família que vive na aldeia e que cozinhou a perna de carneiro e a partilhou connosco. Uma boa ideia do meu amigo Brahim (na foto) que cresceu nessa aldeia antes de se mudar para Tagounite.


Liderando um grupo de pessoas para subir ao Vulcão Tunupa (5320 metros) rodeado pelo Salar de Uyuni




Couchsurfing na favela da Rocinha, incluíndo um inesquecível "Baile de Funk"




















Voluntariado


Voluntariado




MOOCS


Coursera


Existem inúmeras plataformas para a aprendizagem online com níveis variados de exigência e qualidade.
Particularmente interessantes são os MOOCS (Massive Open Online Courses) que são cursos online em larga escala abertos à participação interactiva via web. Além dos tradicionais recursos como vídeos, artigos e exercícios os MOOCS fornecem fóruns interactivos em que os estudantes podem interagir uns com os outros e com os professores.
O Coursera é apenas uma das diversas plataformas de MOOCS existentes, embora seja neste momento na minha opinião a mais completa e credível instituição a fornecer este tipo de cursos trabalhando em parceria com universidades de topo de vários países.
Além de fornecer os materiais, os alunos são avaliados por exercícios, exames, trabalhos escritos, participação em projetos e interações no(s) forúm(s).

Dentro do âmbito do Coursera, completei com avaliação positiva os seguintes cursos:


Introduction to Sociology - Princeton University                                                       
Introduction to Sustainability - University of Illinois at Urbana-Champaign                
Model Thinking - University of Michigan                                                               
Energy 101 - Georgia Institute of Technology                                                   

Destes o único em que não tenho um certificado de conclusão é o curso de Introdução à Sociologia e isto apenas porque a Universidade de Princeton (ainda) não emite certificados para os seus cursos no Coursera.




Línguas


Conhecimentos Linguísticos

Ser capaz de comunicar num outro idioma traz muitos benefícios. Aparentemente além das vantagens óbvias a nível de emprego  e comunicação quando se viaja, aprender idiomas é útil para desenvolver a capacidade de raciocínio abstrato. Quantos mais idiomas se aprendem mais moldável e adaptável se torna o nosso cérebro e mais fácil se torna aprender mais uma língua.
Nesta área como em outras estou sempre a tentar evoluir e aprender mais. Esta é a lista das língua que falo neste momento.

Português  (Nativo)

Inglês - O Inglês adquirido durante o meu percurso escolar foi complementado pela minha estadia de 9 meses em Londres. Nos empregos que tive em Londres fui obrigado pela natureza do trabalho a comunicar em todas as circunstâncias em Inglês contribuindo para a melhoria do meu domínio da língua. Inclusivamente cheguei a trabalhar como professor, leccionando em língua Inglesa.
Quando regressei a Portugal realizei um exame pela University of Cambridge tendo adquirido o CPE, (Certificate of Proficiency in English),  nível C2 do quadro comum europeu de referência para línguas.
O nível C2 é descrito como "a capacidade de lidar com material que seja académica ou cognitivamente exigente e de usar a linguagem, expressando-se bem, num nível de desempenho equivalente àquele de um falante nativo educado.

Espanhol - Destreza no uso do Espanhol adquirida com viagens a Espanha, com a leitura de livros em Espanhol e com a minha estadia de vários meses em países de língua oficial espanhola na América do Sul. Capacidade de comunicar efectivamente e de forma fácil, em qualquer tipo de assunto, concreto ou abstrato. Capacidade de ler e interpretar correctamente textos mesmo que estes sejam considerados desafiantes. Capacidade de escrita, ainda que com erros ortográficos e/ou gramaticais.

Francês - Francês básico adquirido durante os anos escolares e complementado com viagens por França e pelo norte de África e com a leitura de livros em francês.
Capacidade de comunicar efectivamente, em qualquer tipo de assunto, concreto ou abstrato. Capacidade de ler e interpretar correctamente textos complexos. Capacidade de escrita, ainda que com erros ortográficos e/ou gramaticais.

Italiano - Devido ás semelhanças com o português, o espanhol e o francês consigo entender o italiano razoavelmente desde que falado devagar. Estou correntemente a desenvolver o meu italiano lendo a versão original de "Le avventure di Pinocchio".

Japonês - Oralmente consigo compreender cumprimentos, e frases simples usadas frequentemente, assim como vocabulário necessário a ações simples do dia a dia como pedir comida num restaurante, ou perguntar quanto custa um objecto.
Na sua forma escrita conheço razoavelmente o alfabeto hiragana e alguns dos kanjis mais comuns.

Alemão e Árabe - Por curiosidade e por ter viajado em países em que estas línguas são faladas conheço algumas frases e expressões básicas.


Escrita


Escrita

Não escrevia um texto literário desde a altura em que era forçado a fazê-lo na escola para a disciplina de Português. 
Recentemente um amigo meu convidou-me a ir a um workshop de escrita. Pensei que aquilo fosse um pouco mais teórico. Não era (e ainda bem), era chegar e começar logo a escrever. 
Criei uma pequena estória, uma página e meia talvez, mas gostei da experiência.
Na altura estava um pouco envergonhado com o que tinha escrito. Não me pareci algo que quisesse mostrar a outras pessoas, pensava que não estava suficientemente bom. 
Depois compreendi que não podia esperar que as coisas saíssem bem logo a princípio. Os primeiros textos não seriam muito bons. E mesmo que os que se sigam sejam melhores não me vou sentir satisfeito.
Isso não significa que não vou escrever porque não consigo fazê-lo tão bem como gostaria, nem significa que vou esconder o que escrevi onde ninguém o veja, afinal só lê quem quer, e se alguém fizer críticas aquilo que escrever posso aproveitar essas críticas para melhorar, por isso aqui estão os pequenos textos que escrevi nos últimos meses. Agora estou a preparar algo um pouco mais longo e complexo, quando estiver terminado, colocarei aqui também.







Conto 1

 Abriu os olhos. Tinha ouvido um choro, um pranto que se repetiu diversas vezes e o forçara a despertar. Algures, ao longe, uma criança chorava.
Por instantes o ruído cessou e logo os olhos se voltaram a fechar preguiçosos.
Mas o som repetiu-se uma e outra vez. Agora que estava um pouco mais desperto notava que a origem do som não podia estar muito longe.
Contrariado reabriu os olhos, havia no pranto um carácter de urgência que não podia ser ignorado.
Olhou em redor, nos primeiros instantes teve dificuldade em reconhecer o local em que se encontrava.
Do seu lado direito um muro em cimento, com cerca de um metro de altura, à esquerda a mochila de campismo e os corpos dos seus companheiros temporários de viagem, dois alemães que tinha encontrado no dia anterior quando descia da montanha e que agora roncavam ritmadamente dentro dos seus sacos cama. Por cima de si no céu brilhava a lua, cheia, redonda, nítida na sua luz branca.
Recordou com algum saudosismo as noites em que ele e Matilde ficavam horas, de braço dado, conversando sobre a ponte romana e olhando nas águas do rio o reflexo da lua, mas Matilde fazia já parte do passado e ele não se arrependia da decisão que tomara.
O pranto ouviu-se mais uma vez, trazendo-o de volta ao presente, ao terraço do hostel barato na medina de Marrakesh onde se encontrava. Desta vez soava mais a grito de raiva animalesca do que a choro de humano.
Levantou-se rapidamente obrigando os músculos a se libertarem do marasmo morno do sono que os entorpecia e foi então que viu, o choro de bebé, o grito de raiva, o pranto humano que lhe perturbara o descanso não era mais que o alarido causado por três gatos com o cio que nervosos se desafiavam em cima do muro que dava para a rua.
Como sabia que não ia conseguir pregar olho enquanto os gatos seguissem com os seus rituais, saiu do saco cama e com o braço esboçou o gesto de lhes atirar com uma pedra numa tentativa vã de os afastar.
Os gatos não recuaram nem um milímetro, um deles voltou-se para ele e com o pelo eriçado e os músculos contraídos e bufou-lhe exibindo as garras e os dentes numa postura agressiva que o surpreendeu e intimidou ligeiramente.
Subitamente e sem motivo aparente os três gatos desinteressaram-se e abandonaram muro do terraço.
Aliviado e algo embaraçado por se ter deixado intimidar algo tão pequeno como um gato inspirou o ar quente da noite e olhou para baixo.
Na rua havia ainda algum movimento. Casais de regresso a casa. Homens fumando cigarros pensativos.
O barulho dos gatos que agora estavam na rua fê-lo desviar o olhar para a esquina onde acabara de chegar uma mulher.
Movia-se graciosamente com uma agilidade felina e um passo ligeiro e ondulante. Trazia vestidas calças de ganga justas e uma camisola longa coberta de lantejoulas prateadas. Os cabelos eram longos, lisos e muito negros, pareciam macios e frescos ao toque e formavam uma grande trança que ela usava caída sobre o lado esquerdo do peito.
Envolvendo os cabelos trazia um lenço castanho aveludado que em vez de ocultar os seus cabelos salientava o brilho destes e a suavidade dos traços do seu rosto.
Por um instante ela parou. Os gatos aproximaram-se e enroscaram-se nas suas pernas com prazer, esfregando o pelo e o corpo nos seus tornozelos.
Ela baixou-se para afagar um deles distraidamente e depois parecendo adivinhar que ele a observava olhou diretamente na direção do terraço onde ele se encontrava e esboçou um sorriso confiante e enigmático.
Os dentes eram brancos. Os lábios carnudos, morenos e doces mas o que lhe prendeu a atenção foram os olhos, grandes, castanhos, pestanudos. Por momentos os contornos das casas e das vielas esbateram-se, esfumaram-se e ele nada mais via que os olhos dela que o fitavam.
Depois ela desviou o olhar, como que invadida duma timidez comovente e infantil, levantou-se retomando o seu caminho e desapareceu atrás duma esquina.
Agora que estava completamente desperto não lhe apeteceu voltar à cama, não devia ser muito tarde se ainda andava gente pelas ruas. Trocou de roupa e desceu para o exterior.
Na rua os aromas eram mais fortes, um cheiro intenso, mistura exótica de terra quente, chá de menta, urina, jasmim e especiarias diversas.
Mais doce do que os outros o cheiro do desejo pairava no ar, uma essência de pele de baunilha e canela.
Deambulou pelas ruas guiado apenas pelo perfume que ela tinha deixado à sua passagem.
Cruzou as ruas da medina sem ver os homens vestidos com jellabas, longos robes de mangas compridas com capuz, sem ver as mulheres de lenço na cabeça falando uma língua estranha enrolada de sol e céu e de deserto, sem notar que cruzava os souks de loiças e de tapetes, de sapatos e de curtumes, de quinquilharias e de doces, de frutos secos e de especiarias, de roupas e de perfumes.
Embrenhou-se mais e mais nos labirintos da medina, nos labirintos do desejo.
A sua solidão era uma sede mais forte que a que ele tinha sentido sob o sol do meio dia no deserto.
As ruas eram cada vez mais escuras, mais sujas e mais estreitas no coração da medina.
Não havia gente naqueles becos perdidos, apenas os gatos eram testemunhas da sua busca, olhavam-no nos olhos e compreendiam. Alguns troçavam dele atravessando-se no seu percurso e miando nos becos para o desorientar, agora que o rasto de essência que ela tinha deixado era cada vez mais escasso, diluído, apenas meia dúzia de moléculas de feromonas deixadas pelo ar que logo o vento desarrumava.
Terminou. Chegou ao fim. Um beco sem saída, escuro. A doçura já não perfumava o ar.
Olhou em todas as direções e apurou o ouvido mas não existiam indícios de que ela alguma vez tivesse existido.
No canto mais escuro da viela uma multidão de gatos rodeavam um objecto. Aproximou-se ansioso, seria alguma coisa deixada por ela?
Era apenas uma lata de atum vazia que alguém tinha deitado fora.
Desapontado tentou recordar como tinha ali chegado e qual seria o caminho de regresso.
À sua frente, atrás do mar de gatos uma porta abriu-se.
Ela olhou-o, e os seus olhos refletiam a lua.
Marhaba, disse ela. Ele entrou. Ela fechou a porta.

A lua continuou a brilhar.







Conto 2

 Alto no céu o sol de Agosto brilhava implacável.
O barulho das cigarras gritava o calor no ar resinoso do pinhal e nem a sombra das árvores aplacava o bafo quente que se fazia sentir.
Mas não era frescura que buscava Manuel.
Na verdade não sentia o sol pelas costas, nem o suor que lhe escorria pingando da testa. Não notava que as pernas lhe doíam de cansaço da longa caminhada nem lhe fazia nenhuma diferença a pequena pedra que se havia introduzido no seu sapato há horas atrás e que pouco a pouco lhe fizera crescer uma bolha que alastrava lentamente mortificando a pele e a carne a cada passo.
Todo o corpo lhe doía, mas eram as dores da alma que o consumiam, por isso não podia sentir as do corpo, ou sentindo-as não as conseguia distinguir das que lhe ardiam por dentro dos músculos e tendões e orgãos da sua alma dilacerada.
Finalmente viu uma árvore no meio do pinhal afastada do caminho que lhe pareceu adequada ao fim que buscava.
Parou e sentou-se no chão poeirento, mas de um impulso levantou-se e antes que lhe faltasse a coragem abriu a mochila donde tirou a corda. O nó já o trazia pronto de casa.
Subiu a um ramo, prendeu a corda, fê-la passar pelo pescoço, afastando o fantasma de todos os pensamentos e dúvidas que lhe pudessem assaltar a consciência se lhes desse meia oportunidade e engolindo em seco saltou para o abismo. Para o fim que buscava.
Ouviu-se um baque quando a corda se tencionou e um urro de dor ou pavor que ele não conseguiu evitar.
Joana vinha de sua casa e acabava de entrar na mata. Ninguém passava por ali aquela hora do dia e muito menos debaixo do calor tórrido que se fazia sentir naquela tarde de Agosto.
Agora era só fazer o caminho que atravessava o pinhal até à velha casa em ruínas na qual costumava esconder os items de valor que ocasionalmente furtava. Aquele esconderijo era-lhe conveniente e tinha mesmo que deixar ali os frutos das suas actividades ilícitas. Em casa não podia guardá-las, já tinha tido demasiadas complicações anteriormente por isso.
Seguia o caminho em silêncio quando escutou o ruído de um ramo a quebrar-se e olhou na direção donde vinha o som.
Longe na floresta via-se a silhueta de um corpo que suspenso pelo pescoço e tocando no chão apenas com a ponta dos pés se agitava esbracejando, tentando em vão agarrar-se ao tronco da árvore.
Surpreendida e chocada Joana correu na direção do corpo o mais rapidamente que pode.
Á medida que se aproximava a cena com que se deparava ganhava outros contornos. As unhas do homem estavam quebradas, partidas, cheias de sangue, resina e casca de pinheiro.
Agarrou-o por trás evitando os braços cegos que tentavam naquele momento ser tenazes e cravar-se fundo em qualquer sólido que conseguissem tocar.
Notando que assim só poderia proporcionar ao homem algum alívio momentâneo largou-o de novo e saltando agarrou a corda suspendendo-se nela. O ramo que já tinha quebrado parcialmente finalmente cedeu e ambos caíram ao chão.
Joana levantou-se, sacudiu a poeira dos joelhos que esfolara com a queda e olhou o homem à sua frente.
Ele não reagiu, não mexeu um músculo. Deitado de costas no chão olhava o vazio.
  • Porque fizeste isto? – gritou com raiva Joana.
  • Porque te queres matar? - perguntou mais calmamente.
Não houve resposta. Manuel continuava de olhar perdido no abismo celeste, mas as lágrimas começaram a jorrar.
Ela apiedou-se dele, algo na tristeza dele era sincero e nobre.
Algo nos olhos vazios dele lhe recordava uma criança embora ele fosse mais velho que ela.
Notando que as palavras não o podiam tocar, que ele estava naquele momento além de quaisquer palavras que ela ou outra pessoa poderiam dizer, envolveu-o nos seus braços e cantou baixinho para ele uma canção de embalar da sua infância que há muito tinha esquecido.




Conto 3

 Habitas-me

No cinema os funerais ocorrem sempre debaixo de chuva. O céu chora a perda do ente querido em pesadas e abundantes gotas de água.
As pessoas trajam de negro e o céu de cinzento, a raiva e frustração calada de quem fica, pela ausência de quem parte é comunicada pelos uivos do vento e pelo ribombar dos trovões. Homem e natureza em sintonia, complementando a alma de um no cenário do outro.
Talvez por isso me parecesse errada e incompleta a forma como me despedi de ti sob um sol ameno, respirando a brisa perfumada de Maio, numa atmosfera carregada do chilrear dos pássaros e do longínquo riso de crianças a brincar.
As pessoas chegaram, apresentaram as suas condolências e partiram de novo. Deixaram creio eu palavras sinceras e sentidas que eu não consegui ouvir. Não me recordo de nenhuma pois o meu diálogo interior era contigo e comigo mesmo.

Tudo poderia ter sido melhor, oportunidades não faltaram. Devia ter-te ouvido mais, ter-te dado a hipótese de teres sabido mais da minha vida, partilhado mais sentimentos, confiado mais.
Sei pelo menos que estive presente quando foi mais necessário...
E agora? A mulher admiravél que foste, todos os sonhos e esperanças que trazias em ti, todas as tuas qualidades, os teus defeitos, os teus tiques pessoais, tudo o que te fazia diferente e insubstituível, estará condenado a desaparecer lentamente, desvanecendo-se aos poucos como o fumo que se afasta de uma chaminé?
Recordo-me da forma como estavas sempre a mexer no cabelo com a ponta dos dedos, ou como permanecias imóvel durante minutos inteiros com os teus olhos parados nos meus.
Na noite procuro com os dedos o teu corpo que já não está ao meu lado, ansiando pela curva do teu pescoço, a pele macia das tuas costas, pelo volume firme dos teus seios, pelo calor húmido das tuas coxas.
Tu eras tu, tão própria, tão simplesmente tu que dói e sinto até falta, sinto ainda mais falta, daquelas pequeninas imperfeições que ás vezes me irritavam; a forma como evitavas abordar alguns assuntos que te apoquentavam e andavas ás voltas com artifícios melindrosos dando pistas que eu não entendia até que fosse eu a abordar o tema; o teu jeito de ser sincera, abrindo a boca para dizer a verdade naqueles momentos em que qualquer outra pessoa teria de forma inteligente evitado a questão ou respondido com uma mentira piedosa, e a forma teimosa como tinhas sempre de ter a ultima palavra nas discussões.
O todo é mais que a soma das partes e NÓS fomos muito mais que tu e eu.
Ter vivido contigo enriqueceu-me, fez-me crescer e a ti também.
Enquanto cá estiveste preencheste as minhas lacunas, calaste os meus medos, anulaste as deficiências do meu coração e do meu temperamento.
Habitaste-me e hoje que partiste vais continuar a habitar.
Enquanto eu existir uma parte de ti estará comigo sempre.
Habitas-me!

Blogs


Blogs

Atualmente tenho dois blogs ativos:


No Trilhos e Encruzilhadas faço o relato das minhas viagens. De momento, são descritas no blog apenas duas das viagens que realizei. Uma viagem em que voei para Dakar, visitei o Senegal e um pouco do Gâmbia e depois regressei a Portugal por terra, atravessando a Mauritânia, o Sahara Ocidental e Marrocos.
E outra viagem, de sete meses também feita em solitário, e de mochila ás costas pela América do Sul, visitando Brazil, Bolívia, Peru, Paraguai e Chile.
No blog descrevo as paisagens, os costumes e as tradições de cada lugar visitado, bem como as minhas peripécias, aventuras e experiência pessoal em cada parte da viagem. Por vezes os posts valorizam mais a informação factual e a contextualização cultural e histórica, outras vezes são mais centrados na experiência pessoal.
Para ambas as viagens os relatos estão incompletos, mas tentarei em breve actualizar o blog e completá-lo escrevendo os posts em falta, correspondentes a cada etapa da viagem


Neste blog descrevo o que é o peakbagging, uma actividade quase desconhecida em Portugal mas bastante comum nos países anglófonos que consiste em colecionar montanhas, ou em tentar completar a ascensão a todos os cumes de uma determinada lista de montanhas.
Motivado pelo gosto pelas montanhas e pela geografia criei uma lista de todos os cumes de montanhas em Portugal com pelo menos 800 metros de altitude e uma proeminência topográfica de pelo menos 100 metros.
O meu projeto para este blog é criar a página de cada cume para cada uma das montanhas da lista, e completá-la com fotografias tiradas a partir do cume de cada montanha.
Até ao momento a lista inclui 255 montanhas em Portugal Continental, posteriormente serão adicionadas as montanhas importantes dos arquipélagos da Madeira e dos Açores.